A Sun – Netflix

A Sun – Netflix

AVISO: não sou crítico de cinema, nem jornalista especializado e nem mesmo estudioso do assunto. Minha relação com cinema é tão antiga quanto meus 38 anos e toda ela formada puramente por afeto. Dito isso: obra que me invade ganha garoto propaganda, seja 7ª arte, música, literatura, artes visuais, dança e afins.

 

A Sun, filme taiwanês disponível na Netflix e escolhido pelo país para tentar uma vaga a Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2021, é a faísca para que eu comece a escrever sobre obras que me afetam, aqui nos meus devaneios.

O que não significa que isso se tornará hábito.

Ele é bom princípio por um motivo simples: como pode um filme excepcional como esse passar quase totalmente despercebido no serviço de streaming? Por que não há mais espaço na mídia para ele? Não sei, nem saberei, mas talvez seja por estarmos muito envolvidos com Tenets e afins. Pois além de não ser entendido no assunto, sou um palpiteiro amador.

Chung Mong-hong roteiriza, dirige e é até diretor de fotografia (sob o pseudônimo de Nagao Nakashima) da película que narra as relações e destinos de uma família humilde em Taiwan. POSSO ATÉ GRITAR SE PRECISO FOR: ele acerta simplesmente em tudo que tenta aqui, mas sei que isso é deselegante na internet, então apenas sussurro que ele acerta simplesmente em tudo que tenta aqui.

Longe de moralizar as escolhas de qualquer um dos personagens, A Sun é um filme que mostra a ‘verdade’ como um verdadeiro caleidoscópio: todos os personagens que fazem a trama andar tem suas próprias razões para fazerem o que fazem, algumas delas visíveis como em um dia ensolarado, outras escondidas nas sombras de um dia quente (mas apenas para quem tem a sorte de conseguir abrigo).

Da infância de dois irmãos de personalidades completamente diferentes, emergem dois jovens adultos que desconhecem seus papéis emotivos na vida dos pais e, por isso, acreditam de maneira distinta em supostas preferências entre eles.

A-Ho (Chien-Ho Wu) gostava de andar na garupa da bicicleta de sua mãe. Às vezes por mais de 3 horas, ou então ficava frustrado e genioso.

A-Hao (Greg Han Hsu), sempre empático e generoso, navegava, desde cedo, com mais tranquilidade pela vida.

A fase adulta dos irmãos parece se encaminhar para o ‘óbvio’: A-Ho apresenta problemas disciplinares na escola e se mete em brigas dentro e fora dela. A-Hao continua sendo prestativo dentro de casa. E na escola. E fora dela.

É quando o amigo problemático de A-Ho, Radish, comete uma barbaridade, logo na inesquecível abertura de A Sun, que a vida da família entra num turbilhão de destinos já esperados e de inesperadas tragédias. Abismo na comunicação, remorso, zelo, proteção e redenção vão bailar na tela de diversas formas. Só para dizer: atente-se em como a chuva torrencial despenca na tela, apenas em três momentos específicos, quando os personagens se encontram diante de encruzilhadas, e tudo fica mais turvo para que façam suas escolhas. De resto é sempre sol e sombra.

Meu papo por aqui não é contar o filme todo para qualquer gato pingado que tropece e caia nesse textículo por um infortúnio qualquer: vai acontecer muita coisa ao longo das 2h36 que, para mim, passaram bem rápido.

Não conto, também, porque A Sun, como um belo soco no estômago, funciona melhor quando de surpresa. Assim como quando o sol ilumina, entre folhas de árvores, pequenos pedaços de mundo onde antes era sombra, e você vai seguindo aqueles desenhos que formam mapinhas sem destino pelo chão.

E com calma tudo vai se desenrolando. E é com a calma que você percebe que seus julgamentos iniciais sobre cada personagem se fragmenta. Que há, sim, motivações para tudo o que é feito. E que bom se você agisse diferente de cada um deles nas mesmas situações, mas isso depende totalmente do seu tempo de exposição ao sol…

O elenco todo é sólido, mas faço menção especial aos pais A-Wen (o ator Yi-wen Chen) e  Qin (a atriz Samantha Shu-Chin Ko), que tem um diálogo, quase no desfecho do longa, que é realmente de tirar qualquer palavra da minha boca.

Ao final, na dança entre luz e sombra de A-Ho e Qin, a beleza tímida de um filho que, mesmo após tantos desajustes, convida a mãe para demonstrar que pode existir o afeto até mesmo no arriscado. E, também, a gratidão.

Obs: há uma arte minha ilustrando esse texto. Foi feita por motivos de inspiração, óbvio, mas não é garantia de hábito, reitero.

Trailer

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