

Da história, lembro do garotinho
Do centro antigo da cidade
De entrar com mais um tanto de gente
Da espera pelo apagar das luzes
Da curiosidade para entender como
Entre partículas e fumaças que preenchem a sala
O facho de luz gera novos mundos
Onde antes era parede vazia
De cada experiência e sensação
Dentro da sala escura
Dos grupos, algazarras da juventude insegura
Aos beijos, da juventude tímida
Do choque, de conhecer realidades outras
Do impacto, de perceber o poder das ideias
Das lágrimas, quando um desconhecido te emociona
Do sorriso, quando entende não estar sozinho
E de tudo o que aprendeu
Aprendeu mais da vida com o projecionista
Até quando foi hora da despedida
Acendem-se (ou apagam-se?) luzes, a sessão acaba
Haverá outra?
Da história lembro do teu nome, Eliana
De como me levou ao centro de São Paulo
Num antigo e cheio cinema
De como me ensinou a bonita emoção de um filme
Projetou naquela tarde
Um dos teus gostos em mim
Minha mãe, minha projecionista
Sempre se imprimindo em mim
E já ia até esquecendo:
Da história, lembro de Alfredo e Totó
E de Morricone
E de como mesmo após nossa despedida
Cinema Paradiso ainda é refúgio
E ponto de encontro entre nós
Até a próxima sessão!
Porque todo dia 13/12 completo mais um ano sem você.
Porque todo dia 13/12 completo mais um ano sem ter um dia sequer sem pensar em você.
Porque todo dia 13/12 tem Cinema Paradiso em casa.
Grato por tudo sempre, Mãe.
Ira Carlovich, 13/12 do difícil e interminável 2020.